Empresa que atuou nos EUA com análise de redes sociais abre filial no País

O presidente Donald Trump é muito ativo na redes sociais apesar das polêmicas
REUTERS/Yuri Gripas 02.12.2017
Empresa de análise de dados que usou métodos controversos na vitoriosa
campanha de Donald Trump, nos Estados Unidos, a consultoria britânica
Cambridge Analytica, desembarcou no Brasil e negocia com dois potenciais
pré-candidatos à Presidência para as eleições de 2018. O "braço" da
Cambridge Analytica no País é a Ponte Estratégia, empresa que tenta
ganhar espaço no mercado de marketing político nacional num cenário em
que a disputa vai além das propagandas na televisão: a briga pelo
eleitor se dará, em grande parte, nas redes sociais e nos aplicativos de
conversa instantânea.
A disputa virtual ganhou ainda mais força após a reforma política —
aprovada pelo Congresso e sancionada em outubro pelo presidente Michel
Temer — liberar o chamado impulsionamento de conteúdo nas redes sociais e
aplicativos 0151 por exemplo, propaganda em Facebook, Twitter,
Instagram e WhatsApp.
Os métodos da Cambridge consistem em processar uma quantidade enorme de
dados e informações que circulam nas redes para definir perfis de
eleitores. É possível mapear grupos por desejos e sentimentos, e não
apenas por regiões ou faixas etárias. Nos Estados Unidos, a Cambridge
dizia ser capaz de ler a mente dos cerca de 200 milhões de americanos.
A Cambridge levou para a política a estratégia usada por empresas: o
microtargeting. A ideia de produzir discursos eleitorais "on demand",
porém, provocou um debate nos Estados Unidos sobre os dilemas éticos
envolvidos na estratégia, como a possibilidade de manipular discursos
para grupos específicos.
Nos Estados Unidos, a eleição de Trump virou motivo de investigação,
pelo FBI, de interferência russa no resultado do pleito por meio da
compra de publicidade em redes sociais e disseminação de notícias falsas
favoráveis ao candidato republicano.
Franquia
O publicitário André Torretta, de 52 anos, é dono da Ponte Estratégia, a
consultoria que abriu no País a franquia da Cambridge Analytica. Com
experiência em marketing político brasileiro, Torretta refuta a acusação
de manipulação de informações nas eleições americanas. Ele disse que a
Cambridge não tem tecnologia nova, mas "metodologia" diferente.
"A gente usa o que já existe. Se você tiver um banco de dados
comportamental, pode usá-lo. Pega todo mundo que gosta de arma, que tem
interesse por esporte, por exemplo. Os Estados Unidos têm legislação que
permite a confecção desses bancos de dados, a compra deles", afirmou.
Segundo Torretta, o método da empresa britânica será "tropicalizado".
"Não temos banco de dados no Brasil para fazer microtargeting por
pessoa, como nos Estados Unidos", afirmou. "Mas, se eu tenho uma
comunicação endereçada, por que eu não endereço?"
O publicitário afirmou que um candidato a presidente em 2018 deverá
desembolsar ao menos R$ 30 milhões com "impulsionamento" nas redes
sociais — compra de mídia em redes e aplicativos de conversas. É um
valor bem menor se comparado aos gastos que os candidatos tinham ao
produzir programas para televisão durante as campanhas nacionais. Ele
não revelou com quais presidenciáveis está negociando para a eleição do
próximo ano.
Torretta disse também que cabe às autoridades combaterem a disseminação
de fake news nas redes sociais durante a eleição. "O risco de fake news
será total em 2018. É preciso ter controle das redes sociais. Tudo na
rede é rastreável", disse. No Brasil, segundo ele, será a eleição do
aplicativo WhatsApp em razão de o número de usuários ser maior do que o
do Facebook, por exemplo.
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